domingo, 24 de maio de 2020

A TRISTEMENTE CÉLEBRE 'GUERRA COLONIAL' (44)


Continuação.
Fiquei incumbido de estar ao serviço de um prisioneiro (um militar branco !?) para o caso de ele precisar de ir à casa de banho, o que aconteceu uma ou duas vezes durante a noite.
Havia nesse espaço uma cama, deitei-me e adormeci; só me lembro de acordar aos saltos, como num número de circo dois patifes (um deles era o Oficial de Dia) agarrados aos pés da cama atiravam comigo ao ar como se um boneco fosse ao mesmo tempo que me insultavam com o que de pior tinham no seu vocabulário.
Quando amanheceu, sentei-me à porta de armas com outros dois colegas do reforço. Estava completamente desesperado, a cabeça em turbilhão. Entra um 2º sargento com ar deprimente, olhou para nós, os rapazes que estavam comigo levantaram-se e fizeram a continência, eu fiquei quieto; Dirigiu-se a mim e perguntou: - não conheces o RDM ?; - ó meu sargento, eu acabo de chegar do “inferno” estou de passagem, à espera de transporte para Luanda. Lá “no inferno” as divisas e os galões ficavam na mala, desabituei-me.
Furioso foi-se queixar ao Oficial de Dia (o mesmo que me tinha atirado ao ar) vi-os a apontar para mim e pensei, estou tramado, vem aí porrada e da grossa.
Passado algum tempo apareceram o Faria e o Minga, iam dar uma volta, respirar o ar do Rio, e eu pedi-lhes encarecidamente, que fossem de novo à Capitania perguntar se por acaso não haveria um outro barco qualquer que nos desse uma boleia até Luanda.
Ao fim da manhã chegaram eufóricos; - Gaspar chegou hoje um barco-frigorífico que veio trazer carne à Capitania, regressa a Luanda hoje ao fim da tarde, já falamos com o Tenente que comanda a embarcação (é muito pequena), mas o Tenente é um tipo simpático, disse que nos leva, preencheu e entregou-nos o termo de responsabilidade pelo transporte; agora só precisamos de levantar as Guias de Marcha.
Nem queria acreditar no que ouvia.
Combinamos que só o Faria e o Minga iriam encarregar-se dessa tarefa, não fosse o diabo tece-las.
Guias de marcha recuperadas saímos o mais depressa que pudemos do maldito Batalhão e aguardamos pela hora do embarque.
Quando a hora chegou o Tenente recebeu-nos com um sorriso no rosto e perguntou: - vocês sabem nadar...?
Continua.


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5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

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COM A ARTE NO OLHAR