domingo, 17 de maio de 2020

A TRISTEMENTE CÉLEBRE 'GUERRA COLONIAL' (37)



A ÚLTIMA VEZ QUE FUI À FRUTA.
Estava de folga, não resisti ao convite dos camaradas para ir à mata em busca de bananas.
A mata não era longe e tinha realmente muitas bananeiras.
Aí chegados, Jipe parado na picada, tirada a foto da praxe, faca de mato em punho, cortava-mos os cachos que colocava-mos aos pés da árvore, ao mesmo tempo que marcava-mos o percurso para não nos perder-mos no regresso.
Passado algum tempo fomos surpreendidos com o rebentamento de várias explosões em simultâneo; a terra tremia imenso debaixo dos nossos pés, o que quer que fosse estava a acontecer muito perto de nós. Cheios de medo esquecemos tudo e fugimos para a viatura que, em louca correria, nos colocou de novo no acampamento. Lá ninguém se tinha apercebido de nada. Nunca soubemos o que se tinha passado.
Anos mais tarde conheci e fiz amizade aqui no Porto com um rapaz ex-combatente com uma perna artificial.
Conversava-mos muito sobre esta ocorrência, juntamos os dados de que dispunha-mos, comparamos data e locais (estava-mos realmente muito próximos) e, chegamos à conclusão de que o que nos assustou a nós na mata de Noqui (poderia ter sido provocado pelo terrível ataque de que foram vítimas os militares que seguiam em duas viaturas no regresso de uma escolta e do qual o Fernando foi o único sobrevivente).
Sofria nesta altura, (anos oitenta) de Stress Pós-traumático de Guerra muito acentuado.

Sem comentários:

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO
COM A ARTE NO OLHAR