quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
CONTO DE NATAL - 2
.
Um Natal diferente
A noite de consoada tinha sido longa, fraterna e farta.
Antes da abalada para o hotel ainda perguntei – Jorge, programa para amanhã?
- Amanhã vai chover todo o dia!
- não acredito!
- E mesmo que chova… à chuva também se podem fazer boas fotografias, respondi.
Relógio a despertar, na manhã seguinte espreitei pela fresta do reposteiro e exclamei, eureka está sol! Logo depois ligava ao amigo e anfitrião.
Já está pronto? Respondeu-me.
Algum tempo depois, câmaras bem acomodadas nos respectivos sacos entravamos na viatura.
- Onde vamos? Perguntou o Jorge.
- Talvez à Nazaré, respondi.
Duas dezenas de quilómetros após chegávamos ao Sítio e éramos recebidos por vento e frio siberianos, insuficientes no entanto para desanimar qualquer fotógrafo que se preze.
Junto à Capelinha local abeiramo-nos do muro de protecção, olhamos o areal deserto e o belo bailado das ondas, mas com o olhar ofuscado pelo astro-rei que, mesmo de frente para os nossos olhos se divertia, atrapalhando os resistentes fotógrafos.
Dispostos a dar-lhe luta, cada um fotografou como pôde.
Decidi trocar de câmara e de lente.
- isso é cá um calhamaço… exclamou o Jorge, como que a dizer que a dele era mais pequena mas fazia o mesmo serviço…
Com o vento a fustigar-me o rosto nem tentei o sorriso que o diálogo pedia. Apontei a objectiva para o areal e “vi” o que antes me parecia ter observado. Uma pequena cerca à mistura com marcas de rodados de viatura chegavam para enquadrar um “boneco” agradável na sua singeleza.
Pouco depois tínhamos companhia. Um autocarro despejava alguns turistas asiáticos, que, transidos de frio e de pequeníssimas câmaras na mão procuravam obter uma ou outra foto para o álbum de recordações, enquanto outros, se refugiavam na igreja onde a essa hora se celebrava a missa de Natal.
Refúgio foi o que também nós procuramos no confortável automóvel do Jorge, e enquanto apertava o cinto, senti alguma recompensa por a minha (objectiva) ser maior que a deles…
Enquanto o Mercedes iniciava a marcha de retorno ia pensando com as minhas lentes, em alguma coisa havemos de ser os maiores.
Natal 2010
Gaspar de Jesus
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Natal 2010 - 2
.
.
Nascem os homens como deuses pobres:
Nus e de um ventre que desesperou
De os guardar
Sagrados e secretos no seu lago.
Nascem disformes, sem nenhum afago
Da raiva desabrida que os expulsa
E das mãos aterradas que os recebem.
Bebem
O ar do mundo aos gritos.
Olham sem ver, e são
Surdos e transitórios mitos
Da nossa devoção.
Miguel Torga
Coimbra, 3 de Outubro de 1955
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
NATAL 2010 - 1
.
Velho Menino-Deus que me vens ver
Quando o ano passou e as dores passaram:
Sim, pedi-te o brinquedo e queria-o ter,
Mas quando as minhas dores o desejaram…
Agora, outras quimeras me tentaram
Em reinos onde tu não tens poder…
Outras mãos mentirosas me acenaram
A chamar, a mostrar e a prometer…
Vem, apesar de tudo se queres vir.
Vem com neve nos ombros, a sorrir
A quem nunca doiraste a solidão…
Mas o brinquedo… quebra-o no caminho.
O que eu chorei por ele! Era de arminho
E batia-lhe dentro um coração…
Miguel Torga
Coimbra, 30 de Dezembro de 1942.
sábado, 18 de dezembro de 2010
CONTO DE NATAL - 1
O MENINO QUE SE CHAMAVA JESUS AOS OITO ANOS
Jesus era um menino de corpo franzino, o mais velho de quatro irmãos numa família pobre, desmembrada e muito carenciada. Ao menino, que se chamava Jesus, incumbiam tarefas tão simples quanto importantes: tomar conta dos irmãos mais novos, dar-lhes as refeições previamente preparadas por sua mãe e sua tia antes de irem trabalhar, lavar a louça e fazer os habituais recadinhos, para que, quando a noite chegasse e a família se voltasse a reunir, tudo estivesse normal. Aquele Natal era apenas mais um na curta vida do menino que se chamava Jesus. Fazia frio e o menino tiritava, pés descalços pela calçada, na já costumeira caminhada até à mercearia do senhor Domingos. O rol de compras era pequenino, como pequenino era o conjunto de moedas que levada aconchegado no bolso das já puídas calças de cotim: um quilo de broa (pão de milho), meio quilo de arroz, meio quilo de massa da mais barata (por alcunha, manga de capote), um quarto de quilo de açúcar amarelo, um quarteirão (1/8 de litro) de azeite e pouco mais. Com um sorriso na cara, o senhor Domingos subiu a um pequeno banco e retirou da prateleira mais alta uma das garrafinhas de vinho fino. Embrulhada em papel de seda e coberta por uma subtil camada de poeira, deixava transparecer os Três Velhotes da Cálem.
- “Toma lá, é para o vosso Natal!”
O menino que era Jesus não cabia em si de felicidade e, com a vozita embargada pela emoção, proferiu um sincero “muito obrigado”. Dali até casa os seus pezitos nus voaram pelo caminho de regresso. Nesse dia já não jogou ao pião, para não perder de vista o lindo presente. “O vinho fino é para o menino Jesus! Vai para o presépio que está na igreja!”, sentenciou, porém, a tia beata, com um ar autoritário, enquanto o menino que era Jesus irrompia num choro compulsivo: “Para o presépio? … É mas é para o padre! O menino Jesus não bebe, é de louça…!”, protestava. Mas não havia nada a fazer. A garrafa foi bem escondida e no domingo seguinte lá estava ela entre muitas outras prendas no presépio da igreja paroquial, onde se podia ler “Ofertas para o Menino Jesus”. O menino que se chamava Jesus olhava com olhos tristes o vinho fino aos pés do Jesus Menino que era de louça, e chorava de raiva por não ter a coragem de estender a mão e resgatar a garrafinha que o senhor Domingos lhe tinha oferecido. Ah, como ele gostaria de beber daquele vinho que os outros meninos lhe diziam que era doce… Anos mais tarde, o adolescente que se chamava Jesus, agora militante da J.O.C. (Juventude Operária Católica), foi testemunha do quanto o senhor padre se orgulhava de possuir uma excelente garrafeira: “Um dia hás-de ir ver a minha colecção de garrafas, rapaz”. Nesse momento, imaginei os Três Velhotes, deitados, cobertos de pó, na garrafeira do senhor padre.
Novembro 2010
Gaspar de Jesus
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
O SEU A SEU DONO
.
.
Local de Nascimento:Lisboa
País de Origem:Portugal
Autor de êxitos como “Nem Às Paredes Confesso” e “Aquela Janela Virada Para O Mar”, Tristão da Silva assumiu-se simultaneamente como fadista e cantor romântico.
Manuel Augusto Martins Tristão da Silva é natural de Lisboa, onde nasceu no dia 18 de Julho de 1927, tendo falecido prematuramente num brutal acidente de viação ocorrido em Lisboa na década de 70.
Foi como Tristão da Silva que sempre se apresentou durante a sua carreira artística, que teve estreia no Café Mondego, onde era conhecido apenas como o “miúdo do Alto do Pina”.
Tornou-se num fenómeno de popularidade dentro e fora do território português graças a “Nem Às Paredes Confesso”, êxito que esteve na base dos espectáculos que realizou no Brasil, como era hábito na altura, bem como da gravação de discos, que contaram com o acompanhamento de orquestras em vez das tradicionais guitarras.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
DEAMBULAÇÕES 180
Na boca da barra, tentando perder-me
E aquela janela virada p'ro mar
Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p'lo mar fora c'oa alma a sangrar
Levando na ideia uns lábios que invejo
E aquela janela virada p'ro mar
Olha as ondas uma a uma
Preparando o seu assalto
P'ra fazer teu barco em espuma;
Repara na quilha bailando na crista
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada p'ro mar
Lembrando-me em noites de meigo luar
Duns olhos gaiatos que estavam á espera
Naquela janela virada p'ro mar
Já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Daquela janela virada p'ro mar
Olha as ondas uma a uma
Preparando o seu assalto
Entre montes d'alva espuma;
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada p'ro mar
sábado, 11 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
DEAMBULAÇÕES 170
FOTO: GASPAR DE JESUS
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
DEAMBULAÇÕES 169
A Casa de Serralves está localizada no Parque de Serralves na cidade do Porto, em Portugal.
Pertença da Fundação de Serralves, que detém o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, a Casa de Serralves foi mandada construir pelo segundo Conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral.
O edifício, cujo projecto final é da autoria do arquitecto português Marques da Silva, é considerado um exemplo único da arquitectura Art Déco em Portugal.
Concluída em 1940 ,a Casa de Serralves acolheu as exposições realizadas pela Fundação entre 1989 e 1999, data da abertura do Museu de Arte Contemporânea.
Em 1996, a Casa de Serralves foi classificada como imóvel de interesse público devido ao seu interesse arquitectónico.