terça-feira, 14 de abril de 2009

MEMÓRIA - 4 (6)

MEMORIA - 4 (6)
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Entrelinhas de uma Memória
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O ribombar dos trovões era assustador, os raios caíam por todo o lado. Iríamos passar a noite ali, mas não tínhamos onde nos abrigar. Precipitámo-nos para as bagagens e vestimos os impermeáveis. Como a nossa viatura não tinha cobertura, refugiámo-nos debaixo dela, mas foi por pouco tempo, pois a chuva diluviana depressa transformou o local num pequeno riacho.
De novo em cima da viatura, aguentámos estoicamente todo aquele temporal, que durou várias horas. Ao raiar do terceiro dia de viagem, éramos pouco mais que farrapos humanos. Não tínhamos sede, mas estávamos esfomeados e já pouco nos restava para comer. Encharcados até aos ossos, reiniciámos a marcha. Com o avanço da manhã, o sol voltou a raiar, contribuindo para recobrar o pouco ânimo que ainda nos restava.

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Fonte Wikipédia
Chegámos ao acampamento CASA DA TELHA por volta das duas horas da tarde. O estômago reclamava por comida, mas a nossa atenção foi despertada por um coro de vozes que vociferava junto da cerca que delimitava o aquartelamento. Aproximámo-nos e vimos que um grupo de soldados apelidava de “Boi” alguém que integrava a nossa coluna. Intrigados, perguntámos o porquê daquela atitude. Apontaram-nos então o condutor de uma das viaturas civis, que, segundo eles, se fazia acompanhar da esposa, e que mais uma vez a tinha entregue aos “cuidados” do comandante do Batalhão, recuperando-a aquando da viagem de retorno a Luanda. Olhámo-nos meio incrédulos. Longe estávamos de imaginar que havíamos tido a honrosa companhia de uma senhora em tão difícil viagem.
O estômago continuava a queixar-se, mas ninguém parecia incomodar-se com isso. Valeu-nos a diligência do sargento Matos, que “desenrascou”, junto do vagomestre do aquartelamento, sanduíches e alguma cerveja.
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Continua

2 comentários:

Dona Sra. Urtigão disse...

ACOMPANHANDO.AGUARDANDO MAIS

Anónimo disse...

Gaspar
Eu nem tenho escrito nada sobre estes artigos porque o silêncio é, por vezes, a melhor maneira de interiorizarmos o que nos vai na alma.
E se escrevesse poderia correr o risco de me tornar repetitivo no aplauso.
Mas sempre lhe digo que estas recordações nos fazem reviver. Obrigado por isso.
Vou continuar a estar atento.
Um abraço

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO
COM A ARTE NO OLHAR