quinta-feira, 16 de abril de 2009

MEMÓRIA - 4 (8)

MEMÓRIA - 4 (8)
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Entrelinhas de uma Memória
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Fonte: Wikipédia
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Felizmente tudo correu bem e por volta da meia-noite chegámos ao destino. Lembro-me bem de como foi gratificante libertar-me do camuflado imundo, do banho de chuveiro e de cair na cama que me foi destinada. Acordaram-me no dia seguinte à hora do almoço e foi com surpresa que vi um outro companheiro, António Coelho, deliciar-se com uma pratada de esparguete com gordura de carne. Era a primeira vez que o via comer o que quer que fosse fornecido pelo Exército, quer em Portugal quer em Angola. E ele, meio a brincar, meio a sério, justificou-se: - Olha bem à tua volta. Vês alguma alternativa?
Correspondi ao desafio e percebi: estávamos, de facto, totalmente isolados!
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Foto: Wikipédia
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Confesso que foi emocionante para mim encontar nas minhas buscas pela Internete a casa onde vivi durante seis meses.
Tem data de 1971, seis anos depois da minha saída. Notam-se algumas melhorias. Parece ter mais árvores e plantas decorativas ao redor da casa.
Ao fundo pode ver-se a "famosa" Serra da Canda.
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Foto : Wikipédia
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Já esta fotografia aérea da Povoação de CUIMBA aparece sem data, mas não me custa admitir que se trate de uma fotografia de 1961 logo após a sua reconquista.
Dá para perceber que os terrenos em redor ainda estão cultivados, em 1965 estavam cobertos de capím! As contruções que se vêem sobre o lado direito e que me parecem ser de apoio à agricultura, já não existiam no meu tempo. Não se vê ninguém na Povoação e a Capela (ultima casinha ao fundo) está sem telhado...
Recordo que esta Povoação foi ocupada aquando da eclosão da Guerra por negros que armados de Catanas e Armas rudimentares chacinaram todos os Colonos, bem como os trabalhadores negros fiéis aos seus patrões, espetando as suas cabeças em estacas ao longo do caminho. Ao que consta, alguns dos guerrilheiros praticavam o canibalismo. Carne humana terá sido encontrada em arcas salgadeiras.
Algum tempo depois, o Exército Português apoiado pela Força Aérea reconquistou CUIMBA. Encurralados, os guerrilheiros refugiáram-se na Capela, pensando que assim escapariam às bombas dos aviões portugueses... nenhum sobreviveu!
Em 1965 já tinha sido colocado na Capela um telhado em Zinco.
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Nota: Assinalada com X a casa que habitei.
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A seguir (se não me fenecer a coragem), Os Dias de Cuimba

4 comentários:

chica disse...

Nem pense em não ter coragem.Tá muito legal E que sensação deve ter sido ver a foto da casinha.heim? Lindo! um abraço,chica

Milouska disse...

Bom dia, Gaspar!

Compreendo que ainda hoje, a esta distância, seja doloroso recordar certos factos, pois a viagem pela memória de acontecimentos vividos, é como se estivesse a vivê-los de novo.
Por mim, apesar do interesse que tenho nesta sua experiência de vida, está à vontade para lhe dar continuidade, ou não.
Um grande beijinho,

Milouska

Gaspar de Jesus disse...

Obrigado CHICA e MILOUSKA pelos vossos comentários.
Certamente que voltarei ao tema, tão depressa arranje um tempinho para reler mais algumas das cartas arquivadas, e assim refrescar a memória.
Beijinhos para ambas
G.J.

nilda disse...

Estou atenta a sua história. Mesmo atrasadinha venho sempre me colocar a par.
Beijoca.
Nilda.
http://meucantin5.blogspot.com/

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

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COM A ARTE NO OLHAR