sábado, 18 de julho de 2009

OS DIAS DE CUIMBA

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MEMÓRIA
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ENTRELINHAS DE UMA MEMÓRIA
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OS DIAS DE CUIMBA 7
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A chegada aconteceu a 12 de Junho e gerou grande alvoroço.
Os “velhinhos” do 670 foram recepcionar os “maçaricos” à entrada do aldeamento com saudações de grande “cortesia…”
Eu explico:
Fazia parte do nosso fardamento um pequeno boné em tecido camuflado que denominávamos por “Quico”. Era uma peça do atavio que todos roubávamos a todos. A maioria dos “maçaricos” respondia à saudação com o “Quico” posto e a cabeça fora das viaturas… À medida que recebiam as boas-vindas, ficavam sem ele… Poucos terão escapado a este gesto de boa vontade. Zangado estava o segundo-comandante, não achara graça ao atrevimento e reclamava o “Quico” de volta.
Durante cerca de uma semana conviveram em Cuimba os dois batalhões. Era tempo da passagem de testemunho. As instalações ficaram acanhadas para tanta gente e a comida teve de ser repartida por todos.
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FINGINDO DE OPERACIONAIS
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: CADAVAL, FARIA, JOÃO E GASPAR DE JESUS
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Foi com um misto de pena e satisfação que nos despedimos e desejámos boa sorte aos amigos do 670.
Sabíamos também que, durante o período de adaptação dos novos militares a Cuimba, teríamos de ser cautelosos. E não nos enganámos.
Depressa se revelariam desastrados no manejo das armas.
Era muito comum naquela zona de Angola encontrarmos jibóias (serpentes), cuja dimensão em estado adulto pode atingir os quatro metros e meio. Este “bichinho” pode facilmente engolir um homem depois de o asfixiar (recebemos até instruções sobre a forma de usar a faca de mato caso fôssemos atacados por aquele que é considerado o maior réptil de África).
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Poucos dias após a chegada do 782, alguns soldados foram alertados pelo ganir aflito de um cão na periferia do aquartelamento, correram naquela direcção e depararam, espantados, com a serpente a engolir o pequeno animal.
Um deles correu à caserna e regressou de arma em punho, a intenção seria matar a jibóia, mas o primeiro a morrer foi o companheiro que estava na sua frente.
Também nos postos de vigia a falta de jeito para lidar com armas se manifestava. Sempre que uma ou outra rajada de metralhadora ecoava no aldeamento, já sabíamos que eram os rapazes a experimentar o material...
Os riscos eram bem evidentes. Por via disso, nunca mais passei por perto de um posto de vigia em Cuimba.





7 comentários:

Jacque disse...

Muito Lindo seu Blog, que frase linda do seu cabeçalho.
Quer ser meu amigo tb ?
Me visite.

Beijo.

Jacque

conduarte disse...

Meu Deus que medo Gaspar. As experiências da vida da gente são valiosíssimas, mas que Deus nunca me faça encontrar com um bicho desses pela frente... Morro de medo!

Bonita sua postagem.

Bom domingo, CON

Anónimo disse...

Olá!
Aqui quem fala é o Murilo, dos blogs Palavras de Osho e Os nascimentos das palavras.
Assim como você e dezenas e dezenas de outros amigos blogueiros, eu participava das blogagens coletivas do Tertúlia Virtual, belíssimo projeto de promoção de blogagens coletivas que infelizmente chegou ao fim em julho de 2009.
Para mim, a inicitativa do Tertúlia foi responsável pela realização de muitas das melhores blogagens coletivas da blogosfera em língua portuguesa.
A idéia de a cada mês reunir blogueiros em torno de um tema foi tão bem-sucedida que não podemos deixá-la morrer.
Para colaborar, lancei o Vou de coletivo!
Todo dia primeiro do mês será proposto um tema para ser abordado por blogueiros por meio de textos, imagens, vídeos e o que mais a criatividade permitir.
Assim que o tema do mês é apresentado, é aberta uma lista de inscrições. Basta você inscrever sua postagem que automaticamente será inserido um link para ela na relação de participantes. As inscrições ficam abertas o mês todo.
E você, gostou da idéia? Espero que sim!
Então não vamos perder o embalo. Logo sai o primeiro coletivo de 2009!
Abração!

Serena Flor disse...

Bom dia meu amigo Gaspar,
eu moro no pé da Serra do vulcão e antigamente era muito normal que alguns desses "bichinhos" sem a menor cerimônia viessem nos fazer visitinhas(nada amigáveis) aqui em casa...rsrs
Agora a região aqui deixou de ser ruralista e ficou mais urbanizada, deixando as bichinhas em seus devidos lugares...ainda bem!rs
Sempre bom recordar de coisas boas não é mesmo?
Um grande beijo meu amigo e ótimo Domingo pra ti!

chica disse...

Muito interessante tudo isso,gaspar! um abração,bom domingo,chica

Gaspar de Jesus disse...

JACQUE
MURILO
CHICA
Muito obrigado pelas amáveis visitas.
CONCEIÇÃO também eu tinha muito medo destes enormes e perigosos "bicharocos", estive cerca de duas horas a ganhar coragem para pegar nela dado que mesmo depois de morta leva imenso tempo a ficar imóvel, fica ali tempos infinitos a contorcer-se como se estivesse viva...!!!
rsrsrs
SERENA
Com que então as gibóias apareciam-lhe lá por casa... provávelmente vocês tinham um aviário no jardim, parece que elas comem frangos como nós comemos cajús.
Ao que sei estas "simpáticas" engolem com muita facilidade uma cabra com cornos e tudo.
G.J.

batcav disse...

Amigo Gaspar esta historia passou-se na Buela e quase que presencie tudo isto, quando eles abalaram em direcção ao local ainda os avisei que tivessem cuidado passado uns minutos pediam socorro mandei um Unimog e fui também ver o que se passava, foi a nossa única baixa da Companhia em toda a comissão.

5ª TERTÚLIA A 02 DE JULHO

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COM A ARTE NO OLHAR