O rio, a Afurada e o fotógrafo sensível (*)
Por Manuel Vitorino
Jornalista
Autor do blogue: http:// mautempocanal.blogspot.com/
Jornalista
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Afurada foi sempre terra
de pescadores, lugar com escala desenhado à beira-rio habitado por uma
comunidade marcada pela incerteza da faina, na sua maioria formada por
homens e mulheres de parcos recursos, muita gente idosa, gente sentada à
porta de casa, espécie de varandim das
fachadas revestidas a azulejos. É gente simples, afectiva, devota ao
santo padroeiro. Vista de longe, do outro lado do Douro, mais parece uma
minúscula aldeia com embarcações de pesca (e de recreio) ao pé da
porta, roupa estendida junto ao cais, velhotes no banco do jardim a
contar os dias (e a magra reforma de uma vida árdua de trabalho) o
cheiro a sardinha assada, algumas lojas de comércio tradicional. Já não
se vêm tantas traineiras carregadas de peixe como antigamente. Só os
naufrágios e as mortes perduram na memória e nos rostos das famílias
enlutadas.
Foi este microcosmos que o fotojornalista Gaspar de Jesus encontrou e laboriosamente captou após dias semanas, muitos meses a calcorrear a geografia da Afurada sempre à espera do melhor lugar e ângulo que pudesse testemunhar aqueles olhares de gente sensível, paisagens viradas ao estuário do Douro, entre o Cabedelo e a Baía de S. Paio, abrigo e nidificação de aves, pequeno paraíso de grande riqueza paisagística e ornitológica.
O levantamento deste mosaico de olhares das gentes da Afurada está agora disponível no CIPA-Centro Interpretativo do Património da Afurada, um lugar com história dentro, em boa hora transformado para avivar memórias das artes, tradições e culturas locais, cujas paredes acolhem dezenas de fotografias que mais parecem pinturas, testemunhos marcados pelo olhar sensível e atento do fotojornalista. “Um trabalho de vários anos”, precisou Gaspar de Jesus. O mesmo será dizer: não foi chegar, olhar e clicar, antes foi preciso muita paciência, sensibilidade para arte das imagens, ter capacidade para observar o quotidiano à lupa, o visível e o invisível, a luminosidade, o décor, o instantâneo que só acontece na décima de segundo caso o repórter esteja no sítio certo. Por isso, o autor de “Um Olhar sobre a Afurada” necessitou de “tempos infinitos” para fotografar a solidão da senhora sentada na cadeira junto à porta de casa, as redes de pesca de cor aveludada, o sorriso tímido da criança em dia de festa, a ornamentação de rua em honra de S. Pedro, o fogareiro a assar sardinhas com a porta entreaberta, as manifestações de fé nas ruas da Afurada, o pescador no cais em dia cinzento. Ao visitante só é preciso tempo para fruir tanta beleza e encanto espalhado nas paredes do CIPA.
Gaspar de Jesus nasceu em Vila Real, mas veio muito novo para o Porto. Trabalhou em vários jornais (A Capital, O Primeiro de Janeiro, A Bola, Notícias Magazine) e participou em quase uma vintena de exposições individuais e colectivas onde alcançou alguns prémios. É co-autor de alguns livros, entre os quais, Portugal e o Ambiente, Reencontros – Portugal em Fotografia, Daqui Houve Nome de Portugal, 21 Retratos do Porto para o séc. XXI.
A exposição resultou de uma encomenda efectuada ao artista pelas Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM e poderá ser admirada até Novembro todos os dias entre as 10h-12 horas e 13h-18 horas. Mais informações em: www.parquebiologico.pt
(*) Crónica publicada no semanário Grande Porto (6 de Setembro de 2013)
Foi este microcosmos que o fotojornalista Gaspar de Jesus encontrou e laboriosamente captou após dias semanas, muitos meses a calcorrear a geografia da Afurada sempre à espera do melhor lugar e ângulo que pudesse testemunhar aqueles olhares de gente sensível, paisagens viradas ao estuário do Douro, entre o Cabedelo e a Baía de S. Paio, abrigo e nidificação de aves, pequeno paraíso de grande riqueza paisagística e ornitológica.
O levantamento deste mosaico de olhares das gentes da Afurada está agora disponível no CIPA-Centro Interpretativo do Património da Afurada, um lugar com história dentro, em boa hora transformado para avivar memórias das artes, tradições e culturas locais, cujas paredes acolhem dezenas de fotografias que mais parecem pinturas, testemunhos marcados pelo olhar sensível e atento do fotojornalista. “Um trabalho de vários anos”, precisou Gaspar de Jesus. O mesmo será dizer: não foi chegar, olhar e clicar, antes foi preciso muita paciência, sensibilidade para arte das imagens, ter capacidade para observar o quotidiano à lupa, o visível e o invisível, a luminosidade, o décor, o instantâneo que só acontece na décima de segundo caso o repórter esteja no sítio certo. Por isso, o autor de “Um Olhar sobre a Afurada” necessitou de “tempos infinitos” para fotografar a solidão da senhora sentada na cadeira junto à porta de casa, as redes de pesca de cor aveludada, o sorriso tímido da criança em dia de festa, a ornamentação de rua em honra de S. Pedro, o fogareiro a assar sardinhas com a porta entreaberta, as manifestações de fé nas ruas da Afurada, o pescador no cais em dia cinzento. Ao visitante só é preciso tempo para fruir tanta beleza e encanto espalhado nas paredes do CIPA.
Gaspar de Jesus nasceu em Vila Real, mas veio muito novo para o Porto. Trabalhou em vários jornais (A Capital, O Primeiro de Janeiro, A Bola, Notícias Magazine) e participou em quase uma vintena de exposições individuais e colectivas onde alcançou alguns prémios. É co-autor de alguns livros, entre os quais, Portugal e o Ambiente, Reencontros – Portugal em Fotografia, Daqui Houve Nome de Portugal, 21 Retratos do Porto para o séc. XXI.
A exposição resultou de uma encomenda efectuada ao artista pelas Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM e poderá ser admirada até Novembro todos os dias entre as 10h-12 horas e 13h-18 horas. Mais informações em: www.parquebiologico.pt
(*) Crónica publicada no semanário Grande Porto (6 de Setembro de 2013)
3 comentários:
Ao Amigo e Companheiro Manuel Vitorino envio um forte abraço de agradecimento.
Este agradecimento não é apenas meu, mas também do CIPA (Centro Interpretativo do Património da Afurada, bem como de toda a Comunidade Piscatória da Afurada com a qual me identifico por inteiro.
Abraço maior do Gaspar de Jesus
Excelente foto reportagem....
Um abraço
Amigo Gaspar
Seu blog me empurra sempre em direção a saber mais.
Afurada me levou a pesquisar, e muito me acrescentou num assunto que realmente muito pouco sabia.
Beijos a você e Emília
http://meucantin5.blogspot.com.br/
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