AZULEJARIA PORTUGUESA
TRAGÉDIA DE 27 DE FEVEREIRO 1892
( MORRERAM 105 PESCADORES )
( MORRERAM 105 PESCADORES )
A tragédia de 27 de Fevereiro de 1892, fez mergulhar em negro o garrido trajar poveiro. Não
houve lar onde não entrasse o luto. Heroicidade, abnegação, de tudo houve nesse dia
de angústia! A tempestade surpreendeu as lanchas no mar da Cartola a sudoeste
de Aveiro. Duas lanchas, a do tio Praga e a do tio Jéque, navegavam a par, apenas com uma latina(vela), a caminho do norte. Tinham que seguir
como Deus fosse servido, porque não havia força humana que as
pudesse desviar do seu curso tempestuoso. Sem um minuto de descanso, os homens
das companhas esforçavam-se para deitar fora a
água, que as vagas alterosas teimavam em atirar para dentro das embarcações. Os
mestres eram compadres e amigos. As companhas afoitavam-se
mutuamente para não esmorecerem. Mas uma – a do mestre Jéque – pelas alturas de
Esposende, enche-se de água e soçobra; a outra
tenta, mas não pode acudir-lhe. É o mestre da que naufraga que grita:
– “Não tentes o socorro, compadre,
que morreis todos. Deus te guie e leve a salvamento! Leva o último adeus para
as nossas mulheres e nossos filhos! Até à eternidade,
compadre!”
O velho mestre João Praga levantou a
mão num gesto de despedida mas não respondeu. Duas lágrimas rolaram-lhe pela
face, mas ninguém
mais lhe ouviu uma palavra. Leme bem
firme, todo o dia e toda a noite até ao alvorecer do dia seguinte, em que
entrou em Vila Garcia, na Espanha. Salvou a companha. Dois
dias depois chegava à Póvoa, de comboio. Após a tragédia nunca mais comeu,
nunca mais falou. Oito dias depois da sua chegada – morria! A
Grande dor de não poder salvar – matou-o!.
Por A. SANTOS GRAÇA
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